O avanço da Covid-19 e a pretensão ou a necessidade de buscar outros tipos de imóveis para melhorar a qualidade de vida têm impulsionado formas alternativas de compra e venda, como troca, permuta (com algum retorno financeiro) ou carta de crédito. Em cidades como Rio e São Paulo, que experimentaram aumento das negociações no ano passado, o crescimento dessas modalidades chegou a 30%, segundo agentes imobiliários.
Um dos motivos que têm atraído cada vez mais interessados para a troca ou a permuta é a dificuldade que alguns proprietários encontram para vender seus imóveis em meio à crise econômica. Outros consumidores dependem de vender o bem que já têm antes de comprar um novo, o que pode dificultar as negociações de compra e venda convencionais. A queda nas taxas de juros dos bancos também deu novo fôlego ao mercado.
— Com a crise que o país está vivendo, estão voltando à cena modalidades antigas, como a prática da permuta com algum complemento financeiro, ou da troca, como acontece com carros — observa Carlos Eduardo Guerra de Moraes, professor de Direito do Ibmec-RJ.
Em imobiliárias tradicionais ou em aplicativos de negociação de imóveis, o número de interessados vem crescendo.
— Do ano passado para cá, a modalidade de troca ou permuta cresceu 30%. As pessoas que moravam em apartamentos pequenos, e estão passando mais tempo em casa, querem imóveis maiores. Houve um movimento de passar a dar mais valor à moradia. A questão é que para comprar, em muitos casos, é preciso vender primeiro. Isso pode despertar o interesse por esse tipo de negociação — afirma André Moreira, da Martinelli Imóveis.
Na plataforma Loft, por exemplo, o cliente pode entrar em contato para vender ou comprar um imóvel por meio de troca. A maior parte dos interessados é formada por clientes que desejam vender seus imóveis para que possam comprar outros. Neste caso, a Loft compra o imóvel do cliente, e esse bem vale dinheiro na compra de outro, dentro da plataforma.
No Rio, o dono de um apartamento na Lagoa, que queria comprar outro no Leblon, ambos na Zona Sul, se interessou pela proposta da empresa de comprar seu imóvel e buscar outro dentro da plataforma. O processo levou dois meses. Após a busca por apartamentos disponíveis no aplicativo, ele encontrou o que queria após algumas visitas.
— É um bom negócio. Os imóveis passam por um severo processo de diligência para que não haja surpresas com documentação, e temos profissionais especializados acompanhando cada fase do processo — explica Andréa Pugnaloni, responsável pelo setor de vendas da Loft no Rio, acrescentando que os clientes ficam mais seguros porque há um fundo imobiliário que oferece garantia ao negócio.
Na Frassetti Imóveis, o aumento nas negociações em 2020 foi de 20%, em relação ao ano anterior.
— É muito raro encontrar e trocar um imóvel por outro exatamente pelo mesmo valor, mas é cada vez mais comum trocar um imóvel e oferecer a diferença. Neste caso, é preciso lembrar das obrigações, como pagamentos de impostos e lucro imobiliário, sob a responsabilidade do comprador e do vendedor — esclarece Anderson Frassetti, diretor da Frassetti Imóveis.
Orientação jurídica
Rodrigo Karpat, advogado especializado em Direito Imobiliário e coordenador de Direito Condominial na Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB-SP, ressalta que em operações de troca, permuta ou mesmo carta de crédito, é importante estabelecer um contrato prévio e incluir consequências jurídicas no caso de desistência de uma das partes:
— As pessoas passaram a repensaram o modo de viver. Os juros para a aquisição caíram e, como tem mais gente buscando, alguém começou a encaixar a sua venda na minha compra. O negócio é seguro. Mas é preciso prestar atenção ao pagamento de ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis), na compra e venda, e à incidência do imposto sobre o lucro imobiliário. É importante incluir os valores no contrato e informar se existem obrigações de lado a lado, além de verificar impedimentos, se há possibilidade de rescindir o contrato e se alguém deve pagar alguma coisa — destaca.
Ao contrário da compra e venda, a permuta de imóveis não demanda que o pagamento ocorra em dinheiro e, sim, por meio de bens equivalentes. Grande parte das permutas não ocorre na troca por imóveis de mesmo valor, já que fatores como localização e estado de conservação influenciam no valor de mercado. Neste caso, há a alternativa de liquidar uma possível diferença em dinheiro ou até com financiamento.
Fonte: Extra (Globo)