Enfrentar longos períodos sem energia elétrica após fortes chuvas e tempestades vem se tornando muito comum, principalmente nesses períodos em que esses fenômenos acontecem com mais frequência. A cada novo episódio, parte significativa de cidades, como é o caso de São Paulo, fica no escuro por horas, e muitos moradores chegam a ficar vários dias sem qualquer fornecimento, lidando com transtornos que se acumulam no cotidiano.
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Para além da evidente responsabilidade da concessionária de energia e do próprio Estado, por meio de suas agências reguladoras, é fundamental refletir sobre como a população – e, de forma mais específica, os condomínios – pode se preparar para proteger o empreendimento e garantir condições mínimas de bem-estar para quem ali reside.
Isso porque a estrutura condominial depende de energia elétrica para uma série de funções essenciais. Não apenas elevadores, bombas de água e sistemas de segurança funcionam de maneira contínua graças à eletricidade, mas também a iluminação das áreas comuns e equipamentos que integram a rotina moderna dos moradores. A falta de luz, portanto, compromete diretamente segurança, locomoção e qualidade de vida.
No aspecto da segurança, a situação é especialmente sensível. Em grandes centros urbanos (e essa realidade não é exclusiva de São Paulo) a interrupção de sistemas como alarmes, câmeras e portões eletrônicos deixa o condomínio vulnerável. Portões que precisam permanecer abertos e vigilância comprometida criam oportunidades para invasões, mesmo quando há equipes de segurança internas ou terceirizadas.
Já no que diz respeito à mobilidade interna, os impactos também são significativos. Moradores dos andares superiores enfrentam mais dificuldades quando o elevador para de funcionar, especialmente idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou com limitações físicas. Mesmo quem tenta minimizar deslocamentos acaba esbarrando em necessidades cotidianas, como compras ou cuidados com animais de estimação, que exigem saída do apartamento e tornam a dificuldade mais evidente.
Nesse contexto, geradores deixaram há muito tempo de ser um luxo e passaram a ser uma ferramenta fundamental. O mercado oferece diversas soluções, e cabe à gestão condominial avaliar o histórico de quedas de energia na região e identificar opções com melhor custo-benefício para apresentar à coletividade. Ainda que não solucionem todos os problemas, geradores podem garantir o funcionamento mínimo de itens essenciais, reduzindo riscos e desconfortos.
Entretanto, em situações de interrupção prolongada, mesmo os geradores podem não ser suficientes. Por isso, considerando que o condomínio é um espaço de convivência coletiva, torna-se ainda mais relevante que a administração identifique moradores que possam necessitar de ajuda extra. Idosos que dependem de auxílio para compras ou pessoas com limitações de mobilidade, por exemplo, podem ser apoiados por funcionários ou outros condôminos, mediante uma organização simples e solidária.
É crucial que os condomínios se antecipem, busquem soluções e se organizem para preservar a segurança, o funcionamento básico e o bem-estar de todos.
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Como sempre gosto de reforçar: viver em condomínio é viver em comunidade. Quanto mais a gestão atua de forma preventiva, integrada e comprometida com o coletivo, menos problemas surgem, e os que aparecem são resolvidos de maneira mais rápida e eficiente. Assim, o condomínio deixa de ser refém das circunstâncias e se transforma em um ambiente protegido e acolhedor para todos que ali convivem.

*Rodrigo Karpat, especialista em direito imobiliário e questões condominiais. Presidente da Comissão Especial de Direito Condominial no Conselho Federal da OAB e Presidente da Comissão de Direito Condominial da OAB/SP.






